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20/07/2005 - 23h59
Arte do Brasil pré-histórico é tema de exposição no CCBB-SP; veja fotos e vídeo
AUGUSTO OLIVANI
Da Redação



A idéia de que a arte pré-histórica se resume a garatujas nas paredes das cavernas ainda é bastante comum _exemplo disso é o próprio idealizador da mostra "Antes", Marcello Dantas, que tinha essa visão antes de ter o primeiro contato ao vivo com essa manifestação, há cinco anos.

Até o dia 25 de setembro, o público paulistano poderá conhecer a fundo o próprio passado pré-colonial do Brasil com a inauguração da exposição "Antes - Histórias da Pré-História". Depois de passar pelo Rio de Janeiro e por Brasília, onde o público somado foi de 750 mil pessoas, as 150 peças que compõem a mostra ocupam o Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo.

Não se tratam apenas de pinturas e gravuras feitas em cavernas (arte rupestre), que retratam o cotidiano e as cerimônias dos povos indígenas de 35 mil anos atrás, mas também de peças cerâmicas, instrumentos de caça e objetos talhados e moldados em pedra e osso que revelam o esmero e a sofisticação de civilizações ditas "primitivas".

Tendo como referência apenas a natureza, já que não existiam manifestações artísticas anteriores, o índio pré-histórico brasileiro "criou a matriz estética do que deve ser considerado o pilar da história da arte", como diz o idealizador Marcello Dantas, ao mesmo tempo que outros povos contemporâneos de diferentes partes do planeta também passavam a se expressar com pinturas e modelagens. "É o nascimento do espírito humano, há algo mais do que a mera sobrevivência para esses povos", afirma Dantas.

A exposição "Antes" veio a partir de documentário chamado "Cine Caverna" que Marcello Dantas fez para a mostra do Redescobrimento há cinco anos, por ocasião dos 500 anos do Brasil. Para o projeto, Dantas visitou sítios arqueológicos e a partir da pesquisa percebeu que o patrimônio _na maior parte das vezes escondido_ tinha que ser agrupado em exposição.

"Quando eu estive nos sítios arqueológicos", relembra Marcello, "fiquei de queixo caído. Saí para fazer o filme achando que ia ser um monte de rabiscos. Mas poucos dias depois vi que estava na frente de um tesouro que, na minha santa ignorância, não tinha a sensibilidade de ter percebido antes. Era um leigo em pré-história, mas hoje me tornei um curioso dedicado", afirma Dantas _que é formado em diplomacia e tem especialização em história da arte, televisão e cinema, tendo realizado 700 programas para TV, 35 documentários e trabalhado na curadoria de 70 exposições.

Depois de fazer a proposta da exposição ao CCBB, Dantas recorreu ao conhecimento de arqueólogas especialistas em arte rupestre, como Niéde Guidon (considerada a maior arqueóloga brasileira), Anne-Marie Pessis (doutora pela Sorbonne) e Gabriela Martin (professora da Universidade Federal de Pernambuco) para fazer o levantamento das peças mais significativas do período. Com o dossiê em mãos, Dantas assina o desenho da exposição.

Litoral, palnato e Amazônia
A montagem obedece à geografia do Brasil, segundo Dantas. É dividida em três territórios: o litoral, o planalto e a Amazônia. "São três ecossistemas, três pré-histórias diferentes. Quis olhar para o desenho como forma de enxergar o todo, obedecendo o critério espacial, já que as peças não têm datações precisas", explica Dantas. "As linhas curvas, polidas, são originárias do litoral brasileiro; já no interior, predominam a narrativa, o drama, o sexo, a vida, questões fundamentais da vida tratadas de modo figurativo; já a Amazônia é barroca, como é o seu meio ambiente, cheia de excessos e rebuscamento".

As maiores dificuldades da viabilização de uma exposição como "Antes - Histórias da Pré-História" se dão, para começar, por conta da fragilidade do material. A arqueóloga Niéde Guidon exemplifica: "As peças envolvem uma quantidade de cuidados excepcionais. Foram transportadas por especialistas, em carros especiais, o material que saiu do Piauí foi escoltado pela Polícia Militar e todo o material está segurado, mesmo que o dinheiro não pague pelas raridades". Marcello Dantas, por sua vez, resume os obstáculos em fazer uma mostra nesses moldes: "são muitas instituições, muitos acervos, muitos museus e muito custo de transporte".

Niéde Guidon traça paralelo interessante em relação ao desenvolvimentos dos povos brasileiros na pré-história e no presente: "o importante é mostrar ao público brasileiro a cultura desses povos que viviam antes da chegada dos portugueses e que não tiverem contato algum com os colonizadores. As pessoas não tem noção da imensa cultura das populações que viveram aqui. O Brasil é um país do futuro, mas que não tem lastro no passado. O brasileiro tinha que ter orgulho de suas raízes. Havia uma cultura nos estados, antigamente, que hoje não existe mais. A qualidade de vida dos povos piauienses há 40 mil anos era muito melhor do que se vê hoje. Ninguém passava fome".

Niéde é uma das principais responsáveis pelo descobrimento da enorme herança pré-histórica que existe no Brasil. Desde a década de 70, quando integrou missão de arqueólogos franceses que chegou à Serra da Capivara, na cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí, ela desbrava a região em busca de novos elos perdidos entre as civilizações de ontem e de hoje.

"Desde que vi pela primeira vez fotos da Serra da Capivara", relembra Guidon, "pude ver que eram pinturas diferentes, que nunca haviam sido documentadas. Desde então, nós já passamos dos 700 sítios arqueológicos e, recentemente, descobrimos 28 sítios novos, em uma região muito fechada do Piauí. A abundância de material é enorme, pois a população viveu lá isolada por muito tempo. Nosso acervo, hoje, já passou das 600 mil peças. Em arte rupestre, as pinturas que nós temos são as melhores do mundo", afirma Niéde Guidon.

Entre os principais destaques de "Antes - Histórias da Pré-História" está réplica de 10 metros da Pedra lavrada do Ingá, a mais famosa gravura rupestre do Brasil, cujo original (um bloco de 24 metros de largura e três de altura) fica na Paraíba. As imagens ali gravadas mostram composições que tratam de temas cotidianos e cerimoniais das civilizações da região como caça, sexo, idolatria e violência. Os amuletos talhados em pedra amazonenses, chamados muiraquitãs, são um dos mimos de Marcello Dantas.

Já o esqueleto de preguiça gigante, com cerca de cinco metros, também é destaque. O fóssil será montado dentro de caverna localizada no térreo do CCBB-SP, a reproduzir a mesma posição em que foi encontrado.

Depois de passar por São Paulo, Marcello Dantas estuda convites para levar a exposição a outros países. "Antes - Histórias da Pré-História", deve ir para a Espanha em 2006, para o Museu do Ouro de Bogotá, Colômbia, em 2007, e para Portugal e Alemanha em 2008.

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ANTES - HISTÓRIAS DA PRÉ-HISTÓRIA
» Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112 - Centro)
» Quando: até 25/9 (de terça a domingo, das 10h às 21h)
» Quanto: Grátis
» Informações: (11) 3113-3651 / 3113-3652

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