Thomaz Farkas: "A 'Guernica' apareceu aqui como um milagre"da Redação
No dia 6 de junho de 2006, o fotógrafo Thomaz Farkas, 82, integrante do conselho da Fundação Bienal, deu um depoimento ao UOL e falou sobre suas lembranças das bienais de São Paulo. Leia abaixo a íntegra do depoimento: THOMAZ FARKAS A "Guernica" apareceu aqui como um milagre Eu sou do conselho da Bienal e faz muitos anos, desde do tempo do Ciccillo (Matarazzo, presidente da Bienal desde sua fundação, em 1951, até 1977, ano da morte do empresário). Eu freqüentava, eu sou uma pessoa muito ligada à imagem e a Bienal e a Cinemateca são duas coisas que me são muito do coração. Dentro das Bienais, a que eu mais recordo e a que eu mais tenho uma lembrança incrível, é a segunda Bienal, que trouxe a "Guernica" do Picasso. A Guernica do Picasso foi exposta aqui de uma forma incrível, a gente só conhecia através de livros e através de pessoas que tinham visto, e ela veio para cá e apareceu como um milagre, porque era uma peça enorme e foi exposta e realmente é uma coisa que não dá pra esquecer. É uma obra absolutamente fantástica, uma memória de um grande pintor de um acontecimento terrível, e que a gente não esquece. As Bienais seguintes todas elas foram interessantíssimas, as recentes já incluem fotografia, que antigamente não tinha, mas continua a memória minha em relação a "Guernica". "Guernica" é um painel maravilhoso e eu só voltei a vê-la agora na Espanha quando fui visitar, e eu tenho a impressão de que ela não sai mais de lá. A fotografia não era assunto de museu A fotografia entrou nas bienais tardiamente. Eu me lembro que nós fomos à primeira galeria só de fotografia, porque as fotografias não eram convidadas e não tinha fotógrafo convidado para museu. A fotografia não era assunto de museu. Aí nós começamos a fazer a galeria de fotografia com a Rosely Nakagawa, que é uma pessoa especialmente ligada à fotografia, e aí as bienais começaram mais tarde a solicitar a a aceitar fotografias. A fotografia entra nos museus e nas bienais muito recentemente no Brasil pelo menos. Michael Wesely - 25 Bienal - 2002 Teve um fotógrafo alemão recente (Michael Wesely), que expôs fotografias que mostravam o tempo. Ele colocava a máquina e fotografava a mesma cena depois de meses ou anos. Ele expôs em Nova York, fez uma exposição no MoMA, fez exposição aqui. É muito interessante porque é uma fotografia de um outro estilo. São fotografias superpostas da mesma cena em construção ou em modificação. Ele inventa coisas. Ele começou com portraits, com uma câmera sem objetivas --aquela câmera de orifício. Enfim, é um cara que experimenta, que faz experiências com imagem. Acho muito bacana, acho interessante. A fotografia ainda tem muita coisa para ver, para mostrar. E teremos muitas novidades agora com as novas tecnologias eletrônicas --aí não sabemos o que é que vai vir. O mundo inteiro está fotografando, agora fotografar não é nem mais apertar um botão, é só olhar, não precisa fazer absolutamente nada. Agora, o resultado nós não sabemos. | Mais depoimentos- Bienal fez "desinfecção" do nome para exibir Daspu, critica Maria Galindo - Coletivo Eloísa Cartonera quer deixar projeto no Brasil - Gilda Mantilla e Raimond Chaves desenham Brasil pela margem - Baraya fala sobre seu herbário e impressões da Bienal - Mario Navarro revela fraturas históricas da AL através de tecnologias datadas - "No Brasil, vi nossas ruínas utópicas", diz o cubano Diango Hernández - Héctor Zamora: "É possível escapar de todas as regras que implicam no jogo da arte" - Shimabuku: "Aprendi a me tornar feliz aqui" - Seminários descentralizam debate sobre arte, diz diretor do CCSP - Premiado na 1ª Bienal, Caciporé Torres fala da experiência - Leda Catunda: "O sucesso dos anos 80 foi uma coisa muito precoce" - "A Bienal de 1969 quebrou a moldura da arte", diz Tom Zé - "Tradição e Ruptura" foi 1ª mostra de design brasileiro, diz Mindlin - Claudia Andujar conta experiência com os ianomâmis - Para Sheila Leirner, as bienais marcam memória sensível coletiva |